Mesmo com um nome consolidado na cidade e quase 30 anos de trabalho ininterrupto, ainda é comum se deparar no dia-a-dia com questões sobre os preceitos básicos que regem a ONG. As perguntas são de todos os tipos, desde dúvidas relacionadas a nossa política de resgates até horários de funcionamento da secretaria, por exemplo. É claro, nem todos estão inseridos nesse universo da proteção animal e, portanto, não entendem exatamente o porquê de fazermos o que fazemos da maneira que fazemos. Esse é a parte 1 do guia pra você esclarecer todas as suas dúvidas!
Animais no abrigo e políticas de resgate:
O princípio básico por trás de um resgate de um animal errante ou em situação de maus tratos é garantir que, a partir do momento que o animal entra no abrigo, ele jamais passará qualquer tipo de necessidade novamente. É como se um acordo fosse firmado com aquele animal, garantindo a ele que a partir de agora ele terá tudo de que precisa para ter uma vida digna, feliz e saudável.
Nós fazemos todo o possível para encontrar lares responsáveis para todos esses animais que são resgatados. Mas precisamos ser realistas: Quais as chances de um animal que já chega no abrigo em uma idade avançada de conseguir um lar? Temos alguns exemplos de finais felizes nesse sentido, e trabalhamos duro pra isso. Mas em geral, essa não é a regra.
Isso significa que um número considerável de animais vai viver no abrigo por muitos anos. E alguns por toda a vida.
Entender isso é importante, pois nos traz um novo nível de responsabilidade: Enquanto esses animais estão no abrigo, nós temos a OBRIGAÇÃO de tornar o abrigo o lar deles. Sendo adotados ou não, cada dia vivido dentro da SPASB tem que fornecer alimento, água, abrigo, espaço adequado e higienizado, assistência veterinária, medicamentos quando necessários, vacinas, vermífugos, castrações, amor, carinho e atenção para cada um desses animais. Repare nos últimos três itens da sentença anterior: Amor, carinho e atenção são tão importantes e essenciais quanto abrigo, água e ração.
E precisa ser assim. Afinal, onde está o sentido em retirar um animal da rua para que ele continue sem ter suas necessidades atendidas em um abrigo?
Infelizmente, nem todos podem ser resgatados. Não por falta de vontade (acredite, esse é nosso maior sonho!), mas por uma questão matemática elementar. Estima-se que, apenas em nossa região, exista nesse momento 30 mil animais vivendo nas ruas. E esse número aumenta exponencialmente a cada dia, com novos abandonos e com animais errantes se encontrando e gerando novos animais errantes. É simplesmente impossível abrigar todos, e continuará sendo por gerações e gerações.
O nosso abrigo tem a capacidade para suportar, em média, 150 animais. Quando falamos em capacidade, nos referimos a dois pontos cruciais: Espaço adequado para que o animal possa viver tranquilamente de acordo com suas condições e necessidades; capacidade financeira para custear tudo que o animal precisar. Não basta apenas ter o espaço. Não basta apenas ter o dinheiro em caixa. As duas coisas precisam acontecer para termos a certeza de que essa vida será de fato salva.
Portanto, resgatar um animal não é tão simples quanto parece. Não é “apenas mais um”. É uma vida que merece ter todas as suas necessidades supridas. E temos a obrigação de cumprir esse acordo com os animais que aqui estão. Pense no seguinte: Se um abrigo que suporta 150 animais de repente se vê com 300, é evidente que esses 150 animais “em excesso” não terão um ambiente adequado e digno. Além disso, os 150 que já estavam no abrigo anteriormente e até então tinham tudo do melhor, agora deixarão de ter.
Não é isso que queremos para o nosso abrigo, embora nos doa saber que, em muitos casos, não poderemos atuar com o resgate. Não há como discutir com a matemática. Enquanto houverem milhares de animais nas ruas, não há entidade que conseguirá resgatar o suficiente. Nosso foco está em fazer tudo da melhor maneira possível para o número de animais que suportamos.
Não podemos salvar todos, mas faremos tudo por aqueles que salvarmos.